segunda-feira, 15 de maio de 2017

Um pouco da história dos vitrais do Mercado Municipal de São Paulo SP

6 Outubro 2015

Nos vitrais, a pintura complementa o colorido dos vidros, serve para a criação de sombras e tonalidades, para o aprimoramento das formas, para a modulação da luz. A arte do vitral desenvolveu-se enormemente durante o período medieval, momento em que, com a afirmação do gótico como expressão da arquitetura, as composições de vidros coloridos passaram a vedar grandes superfícies das igrejas e, além das funções decorativas, ganharam funções pedagógicas, ensinando aos fiéis, por meio de imagens, a vida de Cristo, dos Santos e passagens da Bíblia.
Entre os séculos XIV e XVI, os vitrais passaram a ser utilizados como formas de iluminação dos ambientes e a pintura dos vidros adotou a perspectiva, o que tornava os vitrais semelhantes aos quadros. Sua utilização ampliou-se dos espaços públicos, em especial das igrejas, para os ambientes privados, como palácios e sedes de corporações. As representações neles contidas se estenderam, então, para a heráldica, para as epopeias, para as caçadas e para a mitologia. No Estado de São Paulo, a utilização de vidros coloridos e pintados, montados em perfis de chumbo para decoração e iluminação de ambientes, correspondeu à fase moderna do desenvolvimento da arte de produzir vitrais.
Na capital, ampliou-se a partir da virada do século passado, com a expansão de novos bairros, a monumentalização dos edifícios públicos e o requinte arquitetônico das residências. Até hoje vitrais de edifícios públicos paulistanos, como os do Palácio da Justiça e do Mercado Municipal, causam admiração pela proporção, beleza e integração com o projeto arquitetônico. Representando temas históricos ou referentes às funções públicas dos edifícios, as imagens formam um conjunto das representações que, a partir do fim do século anterior, criaram e reafirmaram um perfil de São Paulo diante do Brasil. 
Sob esse ponto de vista, os vitrais, além de peças de arte, constituem importantes documentos históricos. Eles nos falam do forjar de ideias que se tornaram referência e moldam nossa relação com o passado e com o presente, justificando papeis e responsabilidades sociais. Produtos materiais de cultura, parte de nosso patrimônio histórico e objetos de fruição de beleza, os vitrais expressam por meio do poder das imagens a tradição, a excelência econômica e cultural de São Paulo, o trabalho, a determinação e o progresso. 
Outras possibilidades de criação do vitral podem ser observadas no Mercado Municipal de São Paulo, 1933, que apresentam um tom quase jornalístico a temática dos vitrais. Ali aparece o homem flagrado no momento de seu trabalho: alimentando animais de criação, colhendo café, transportando bananas, tocando o gado. Cenas da agricultura, avicultura, pecuária, mostrando agricultores trabalhando de forma bem rudimentar, numa época anterior à mecanização. Tudo retratado dentro de um realismo fotográfico no que diz respeito à paisagem, à proporção e à profundidade dos elementos representados, buscando a autenticidade das informações.

Vista noturna dos vitrais e Mercadão..Foto: André Estéfano.

Cenas do cotidiano da vida no campo na década de 30.

Plantação de café.

Agricultores trabalhando na lavoura.

A colheita e o transporte de bananas.

Boiadeiro conduzindo a manada de bois através do rio.

Os 5 vitrais que retratam cenas da vida no campo, estes foram criados por Conrado Sorgenicht Filho que já tinha a tradição na família, cuja técnica foi trazida da Alemanha no século XIX pelo seu pai, Conrado Sorgenicht.
Conrado Sorgenicht (filho) andou pelas fazendas do interior do Estado de São Paulo, acompanhado de seu filho Conrado (neto), que já trabalhava no ateliê desde 1922, fotografando lavouras para registrar as ferramentas utilizadas, os meios de transporte, os animais de pequeno porte sendo criados soltos. Inspirados nestas fotos, o vitral foi criado. A criação dos vitrais levou 5 anos. Os vitrais foram restaurados no final dos anos 80 por Conrado Sorgenicht Neto.***

Professora Dra. Regina Lara Silveira Mello / Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas.